quarta-feira, 8 de maio de 2013

2º ANO - PICASSO E PORTINARI (2º BIMESTRE)


PABLO PICASSO

Guernica

Por Ana Lucia Santana

Guernica - a trágica e clássica obra do pintor cubista Pablo Picasso  – nasceu das impressões causadas no artista pela visão de fotos retratando as conseqüências do intenso bombardeio sofrido pela cidade de Guernica, anteriormente capital basca, durante a Guerra Civil Espanhola, em 26 de abril de 1937.
Este painel, produzido em 1937, é então exposto em um pavilhão da Exposição Internacional de Paris, no espaço reservado à República Espanhola. Este trabalho é grandioso, em todos os sentidos, tanto na catástrofe bélica que reproduz, quanto no seu tamanho, pois ele mede 350 por 782 cm. Elaborado em tela pintada a óleo, é um símbolo doloroso do terror que pode ser produzido pelas guerras.
Guernica
Esta obra universal traz em si o impacto provocado por todo e qualquer confronto bélico, não só o vivenciado pelos habitantes de Guernica, destruída pela mortífera aviação alemã comandada pelo nazista Adolf Hitler, aliado do ditador espanhol Francisco Franco. Diretamente atingido pela visão desta violência sem igual, Picasso leva um mês e alguns poucos dias a mais para produzir sua obra-prima, que é concebida depois de não menos que 45 estudos anteriores.
Imediatamente este trabalho assume o caráter de representante artístico universal na condenação deste ato selvagem. As imagens que emanam desta tela transcendem os próprios fatos, alcançando, quase profeticamente, futuros embates que, hoje, se traduzem em guerras que pipocam aqui e ali em áreas que chegam a atuar como cobaias para que novos armamentos sejam testados, principalmente os eficazes bombardeios de saturação.
Picasso concebeu sua obra em preto e branco, com alguns traços amarelados, traduzindo assim os intensos sentimentos que o abalaram na destruição de Guernica, sua rejeição a tamanha violência. Sem dúvida nenhuma constituída em estilo cubista, o pintor nela reproduz o povo, os animais e as construções atingidas pelo bombardeio.
A própria recorrência ao recurso conhecido como ‘collage’ evidencia as intenções emocionais do artista. Ele não cola simplesmente as imagens na tela, mas as pinta, simulando o ato da colagem. Assim ele tece um espaço renovado e original, não obtido por meio de técnicas ilusórias, mas sim pela justaposição de imagens cortadas na perspectiva plana, em tonalidades pretas e cinzas, perpassadas por luzes brancas e amarelas, atingindo a impressão de uma falta completa de cores, que aqui lembram sem dúvida a morte.
O pintor representa em Guernica, com certeza, a dissolução da existência, que se resume a fragmentos, a transformações na anatomia dos seres retratados, de certa forma irreais, mas que ao mesmo tempo transmitem o absurdo significado ou a absoluta falta de sentido da realidade gerada pela guerra.
Este painel, que hoje está exposto no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madri, ainda transmite todo terror vivenciado por Picasso e seus contemporâneos durante a Guerra Civil Espanhola. E clama pela construção de um mundo renovado, tecido pela presença constante da paz e da tolerância. Esta obra será eternamente o símbolo da destruição que o Homem pode perpetrar, mas também de seu potencial para o entendimento e a convivência com o Outro.


GUERNICA



CANDIDO PORTINARI

GUERRA E PAZ DE PORTINARI

Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz…
… Dedico-os à humanidade…
Portinari para a Agência Reuters, 1957

Presentes do Governo Brasileiro para a sede da ONU, em NY, os painéis Guerra e Paz foram encomendados no final de 1952 ao pintor. Era uma superfície de 280 metros quadrados, espaço maior do que o do Juízo Final, de Miguel Ângelo, na Capela Sistina.
Contrariando as recomendações médicas, proibido de pintar por sintomas de intoxicação pelas tintas, Portinari aceitou o convite. E no auditório dos estúdios da TV Tupi, durante 4 anos, trabalhou com afinco na confecção de 180 estudos, esboços e maquetes para os murais. Em 5 de janeiro de 1956, Portinari entregava os painéis Guerra e Paz ao Ministro das Relações Exteriores Macedo Soares, para a doação à ONU.
Encomenda entregue. Mas ninguém havia visto ainda os painéis em sua plenitude, nem mesmo o próprio artista. Foi então que começou um movimento de opinião pública, e um grupo de artistas e intelectuais apelou ao Itamaraty para que os painéis fossem expostos no Brasil antes do embarque para os EUA, para que fosse dada uma chance ao público brasileiro de vê-los, pela primeira e derradeira vez.
Assim, Guerra e Paz foram montados lado a lado ao fundo do palco do Theatro Municipal. Muito bem iluminados, e com o teatro praticamente às escuras, ficaram impressionantes. Em fevereiro de 1956, os painéis foram solenemente inaugurados pelo Presidente da República Juscelino Kubitschek, que, na ocasião, entregou a Portinari a Medalha de Ouro de Melhor Pintor do Ano (de 1955) concedida pelo International Fine Arts Council de Nova York.
Grupos de estudantes, operários, moças, velhos, pessoas vestidas simplesmente, uma grande massa que se renovava continuamente, durante todo o dia e pela noite a dentro, lotou o Municipal nos poucos dias de exposição. Todos os jornais deram amplo espaço ao acontecimento. A Imprensa Popular abriu a manchete: “O povo lotou o Municipal para ver os painéis de Portinari”. E registrou em subtítulo: “‘Nunca vi uma coisa assim’, disse o porteiro que distribuía os folhetos à entrada”.
Logo depois de desmontada a exposição, os painéis foram enviados à ONU. No entanto, somente em 6 de setembro de 1957, após dois imensos caixotes contendo a obra ficarem no porão da instituição durante um ano e seis meses, Guerra e Paz foram finalmente doados à ONU em cerimônia oficial.
Devido ao envolvimento de Portinari com o Partido Comunista, Portinari não foi convidado a comparecer à cerimônia, sendo representado pelo chefe da delegação brasileira na Organização, o Embaixador Cyro de Freitas-Valle, que afirma: “Com pesar não o vejo hoje entre nós”. E acrescenta: “Desejo salientar um ponto: o Brasil está oferecendo hoje às Nações Unidas o que acredita ser o melhor que tem para dar”.


PAINEL PAZ 

PAINEL GUERRA